domingo, 9 de outubro de 2016

NÃO ADIE O SEU ENCONTRO COM A ESPIRITUALIDADE – POR MARIO SERGIO CORTELLA

NÃO ADIE O SEU ENCONTRO COM A ESPIRITUALIDADE – POR MARIO SERGIO CORTELLA


Religião as pessoas podem ter ou não. Já a religiosidade é um elemento estruturante da existência
Na juventude, o filósofo Mario Sergio Cortella experimentou a vida monástica em um convento da Ordem Carmelitana Descalça. Durante três anos, aprendeu a viver em comunidade, a não ter propriedades, a guardar silêncio. Abandonou a perspectiva de ser monge – mas não a espiritualidade – para seguir a carreira acadêmica. Hoje, com 55 anos, é professor universitário de educação, conferencista em instituições públicas, empresas e ONGs, comentarista em vários órgãos da mídia e autor de 10 livros, que prefere chamar de “provocações filosóficas” – José Tadeu Arantes – Revista Claudia – 12/2009

Sempre é tempo de balanço, de rever trajetórias, de refazer escolhas. Fim de ano nos chama especialmente para isso. Em meio à correria das compras, dos encontros, dos comes e bebes, conseguimos um intervalo para a reflexão? Para nos perguntar: afinal, o que estamos fazendo nesta vida? O filósofo Mario Sergio Cortella tem levado esse tema a vários ambientes. Professor da Pontifícia Universidade Católica e da Fundação Getulio Vargas, ambas em São Paulo, e da Fundação Dom Cabral, em Belo Horizonte, ele foi discípulo do educador Paulo Freire e atuou como secretário municipal de Educação de São Paulo. “Minha pretensão não é dar respostas, mas elementos para as pessoas formularem melhor suas perguntas”, disse no início da entrevista.
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Em época de Natal, a sensação é de que há algo a mais na atmosfera. Para uns, é encantamento, elevação. Para outros, apenas nervosismo, que se traduz em febre de consumo, excessos alimentares e conflitos interpessoais. Existe lugar para a espiritualidade em meio a tanta agitação?
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Em algumas situações, aquilo que chamamos de espírito de Natal” é algo cínico, que agrega os indivíduos em torno de festividades de conveniência. Mas há muitas pessoas que, independentemente de serem cristãs ou não, têm, nesta época do ano, uma verdadeira experiência do “comemorar”. Gosto dessa palavra porque “comemorar” significa “lembrar junto”. E do que nós lembramos? De que estamos vivos, partilhamos a vida, de que a vida não pode ser desertificada.

Há uma pulsão de vida.
Claro que, a todo instante, está colocada também a possibilidade de que a vida cesse. Somos o único animal que sabe que um dia vai morrer. Aquele gato, que dorme ali, vive cada dia como se fosse o único. Nós vivemos cada dia como se fosse o último. Isso significa que você e eu, como humanos, deveríamos ter a tentação de não desperdiçar a vida. Escrevi um livro chamado Qual É a Tua Obra?, que começa com uma frase de Benjamin Disraeli, primeiro-ministro britânico no século 19. Ele disse: “A vida é muito curta para ser pequena”.

Como não apequenar a vida?
Dando-lhe sentido. A espiritualidade ou religiosidade é uma das maneiras de fazê-lo. A religiosidade, não necessariamente a religião. Religiosidade que se manifesta como convivência, fraternidade, partilha, agradecimento, homenagem a uma vida que explode de beleza. Isso não significa viver sem dificuldades, problemas, atribulações. Mas, sim, que, apesar disso tudo, vale a pena viver. Meu livro Viver em Paz para Morrer em Paz parte de uma pergunta: “Se você não existisse, que falta faria?” Eu quero fazer falta. Não quero ser esquecido.

Fale mais da diferença entre religiosidade e religião.
Religiosidade é uma manifestação da sacralidade da existência, uma vibração da amorosidade da vida. E também o sentimento que temos da nossa conexão com esse mistério, com essa dádiva. Algumas pessoas canalizam a religiosidade para uma forma institucionalizada, com ritos, livros – a isso se chama “religião”. Mas há muita gente com intensa religiosidade que não tem religião. Aliás, em minha trajetória, jamais conheci alguém que não tivesse alguma religiosidade. Digo mais: nunca houve registro na história humana da ausência de religiosidade. Todos os primeiros sinais de humanidade que encontramos estão ligados à religiosidade e à ideia de nossa vinculação com uma obra maior, da qual faríamos parte.

De onde vem essa ideia?

Existe uma grande questão que é trabalhada pela ciência, pela arte, pela filosofia e pela religião. A pergunta mais estridente: “Por que as coisas existem? Por que existimos? Qual é o sentido da existência?” Para essa pergunta, há quatro grandes caminhos de reposta: o da ciência, o da arte, o da filosofia e o da religião. De maneira geral, a ciência busca os comos”. A arte, a filosofia e a religião buscam os “porquês”, o sentido. A arte, a filosofia e a religião são uma recusa à ideia de que sejamos apenas o resultado da junção casual de átomos, de que sejamos apenas uma unidade de carbono e de que estejamos aqui só de passagem. Como milhões de pessoas no passado e no presente, acho que seria muito fútil se assim fosse. Eu me recuso a ser apenas algo que passa. Eu desejo que exista entre mim e o resto da vibração da vida uma conexão. Essa conexão é exatamente a construção do sentido: eu existo para fazer a existência vibrar. E ela vibra em mim, no outro, na natureza, na história.

Existe também a religiosidade que quer beber diretamente na fonte, que busca a relação sem mediações com o divino.
O divino, o sagrado, pode ganhar muitos nomes. Pode ser Deus no sentido judaico-cristão-islâmico da palavra; pode ser deuses; pode ser uma vibração, uma iluminação. Independentemente de como o denominamos, há algo que reconhecemos como transcendente, que ultrapassa a coisificação do mundo e a materialidade da vida, que faz com que haja importância em tudo o que existe. Desse ponto de vista, não basta que eu me conecte com os outros ou com a natureza. Preciso fazer uma incursão no interior de mim mesmo, em busca da vida que vibra em mim e da fonte dessa vida. É essa fonte que alguns chamam de Deus. A conexão com essa fonte é aquilo que os gregos chamavam de sympatheia, que significa simpatia. Trata-se de buscar uma relação simpática com o divino.

Como você busca essa relação?
De várias maneiras. Às vezes, na forma de um agradecimento. Às vezes, na forma de um pedido. Às vezes, por meio de uma oração consagrada pela tradição – porque, como dizia Mircea Eliade, o maior especialista em religião do século 20, “o rito reforça o mito”. Às vezes, recorrendo a um gesto espontâneo. Outro dia, eu estava em uma cidade litorânea, onde iria palestrar. Em frente ao hotel, havia uma praia. Caminhando descalço sobre a areia, às 5 e meia da manhã, sentindo o sol que nascia, me veio um forte sentimento de gratidão e rezei, em silêncio, uma oração, das consagradas. Já ontem, eu estava reunido com a família em volta da mesa. Diante da cena dos meus filhos com as esposas, novamente senti gratidão. Ergui a taça de vinho e brindei em agradecimento por aquele momento. Nem sempre a minha relação é de gratidão. Às vezes, é de apelo. Na crença, verdadeira para mim, de que a fonte de vida pode reforçar a minha capacidade de viver, eu peço.

Existe, hoje, um maior impulso para a espiritualidade ou trata-se apenas de mais uma onda passageira?
Guimarães Rosa disse que “o sapo não pula por boniteza, pula por precisão”. De acordo com o headhunter e professor de gestão de pessoas Luiz Carlos Cabrera, a grande virada no mundo empresarial brasileiro ocorreu, de fato, no dia 31 de outubro de 1996 às 8h15, quando um avião da TAM, com 96 pessoas a bordo, todos eles executivos, exceto a tripulação, caiu sobre a cidade de São Paulo. Perdi dois amigos de infância nesse acidente. Aquele foi um momento de inflexão no mundo corporativo. Eu compartilho dessa opinião. As pessoas começaram a pensar: eu podia estar naquele voo e o que eu fiz até agora? Toda a ânsia que caracteriza o mundo corporativo, focada no lucro, na competitividade, na carreira, começou a ser relativizada.

Mas existem também fatores de fundo, que afetam o mundo.
É claro. Um fator, talvez o principal, foi que o século 20, apostando na ciência e na tecnologia, nos prometeu a felicidade iluminada e ofereceu angústia. Em prol da propriedade, sacrificou-se a vida, a convivência, a consciência. O stress tornou-se generalizado, afetando adultos, jovens e até as crianças. Há uma grande diferença entre cansaço e stress. O cansaço resulta de um trabalho intenso, mas com sentido; o stress, de um trabalho cuja razão não se compreende. O cansaço vai embora com uma noite de sono; o stress fica.

Há uma forte cultura da pressa e da distração.
A tecnologia nos proporcionou a velocidade. Mas, em vez de usá-la apenas para fazer as coisas rapidamente, nós passamos a viver apressadamente. Assim como existe uma grande diferença entre cansaço e stress, existe também entre velocidade e pressa. Eu quero velocidade para ser atendido por um médico, mas não quero pressa durante a consulta. Quero velocidade para ser atendido no restaurante, mas não quero comer apressadamente. Quero velocidade para encontrar quem eu amo, mas não quero pressa na convivência. Tempo é uma questão de prioridades. Muita gente argumenta não ter tempo para a espiritualidade, para cuidar do corpo. E segue nesse ritmo apressado até sofrer um infarto. Se não for fatal, o infarto funciona como um sinal de alerta. O dia continua a ter 24 horas, mas quem sobrevive passa a acordar uma hora mais cedo para caminhar e se exercitar. O impulso espiritual também é um sinal de alerta. Não há pressa em segui-lo. Mas cuidado: é muito arriscado adiar indefinidamente para o ano que vem.
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Publicado Originalmente em: Planeta Sustentável

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

JAMAIS ESTARÁS SÓ

   

                                             JAMAIS ESTARÁS SÓ

SÓ, não te sentiras jamais, desde que tenhas o coração aberto para as coisas boas e para os exemplos de bondade, que a vós foram ensinados pelo nosso Mestre Maior.
SÓ, não te sentirás jamais, desde que tenhas a tua mente voltada para a caridade para com o próximo, estendendo tuas mãos aos necessitados.
SÓ, não te sentirás jamais, desde que tenhas seus braços abertos para receberes a todos “aqueles” que de ti se aproximarem em busca do seu afeto e da tua luz como conforto.
SÓ, não te sentirás jamais, desde que nas tuas horas de angustia, saibas buscar na fé o balsamo, o alento para tuas necessidades.
Acredite que SÓ não te sentirás jamais, pois que com a tua fé terás sempre o nosso Grande Mestre Jesus como companhia frequente.  

(JMRS) 05/10/16

terça-feira, 4 de outubro de 2016

O TEU DIA A DIA



O TEU DIA À DIA

Se no teu dia à dia deparares com momentos sombrios, abra a janela do seu coração e nele deixe penetrar a luz do sol.
Observai o voo dos pássaros e coloque-se sobre suas asas para sentires toda a beleza de se estar vivo.
Deixe-se seguir o caminho natural das coisas e ponha-se a beber nas águas cristalinas da fonte da sabedoria, para que assim possas caminhar a tua vida com compreensão.
Distribuas o amor para poder ter junto de ti a paz tanto almejada.
Sejas também humilde, pois como o Mestre nos ensinou no sermão da montanha,"é dos humildes o Reino dos Céus".
Agindo desta forma, poderás abrandar as provações que estão por vir. (JMRS)

domingo, 13 de março de 2016

A AMIZADE

A AMIZADE
 
    A amizade é o sentimento que imanta as almas umas às outras, gerando alegria e bem-estar.
    A amizade é suave expressão do ser humano que necessita intercambiar as forças da emoção sob os estímulos do entendimento fraternal.
    Inspiradora de coragem e de abnegação. a amizade enfloresce as almas, abençoando-as com resistências para as lutas.
    Há, no mundo moderno, muita falta de amizade!
    O egoísmo afasta as pessoas e as isola.
    A amizade as aproxima e irmana.
    O medo agride as almas e infelicita.
    A amizade apazigua e alegra os indivíduos.
    A desconfiança desarmoniza as vidas e a amizade equilibra as mentes, dulcificando os corações.
    Na área dos amores de profundidade, a presença da amizade é fundamental.
    Ela nasce de uma expressão de simpatia, e firma-se com as raízes do afeto seguro, fincadas nas terras da alma.
    Quando outras emoções se estiolam no vaivém dos choques, a amizade perdura, companheira devotada dos homens que se estimam.
    Se a amizade fugisse da Terra, a vida espiritual dos seres se esfacelaria.
    Ela é meiga e paciente, vigilante e ativa.
    Discreta, apaga-se, para que brilhe aquele a quem se afeiçoa.
    Sustenta na fraqueza e liberta nos momentos de dor.
    A amizade é fácil de ser vitalizada.
    Cultivá-la, constitui um dever de todo aquele que pensa e aspira, porquanto, ninguém logra êxito, se avança com aridez na alam ou indiferente ao elevo da sua fluidez.
    Quando os impulsos sexuais do amor, nos nubentes, passam, a amizade fica.
    Quando a desilusão apaga o fogo dos desejos nos grandes romances, se existe amizade, não se rompem os liames da união.
    A amizade de Jesus pelos discípulos e pelas multidões dá-nos, até hoje, a dimensão do que é o amor na sua essência mais pura, demonstrando que ela é o passo inicial para essa conquista superior que é meta de todas as vidas e mandamento maior da Lei Divina.
 
(Divaldo Pereira Franco por Joanna de Ângelis. In: Momentos de Esperança)
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FORMATAÇÃO E PESQUISA: MILTER --- 13/03/2016
 

Queridos amigos, Um estudo assustador recém-lançado apontou que até 2050 pode haver mais plástico no oceano do que peixes!

Olá, estou reenviando este email caso você não o tenha visto e queira colaborar nesta campanha para limpar nossos oceanos. 

Queridos amigos, 

Um estudo assustador recém-lançado apontou que até 2050 pode haver mais plástico no oceano do que peixes!

Chega a ser obscena a falta de cuidado com os oceanos e abala nossa fé na humanidade. Mas aí ouvimos histórias como a de Terry, Christina e Chris, três amigos que tomaram conhecimento do problema causado pelo plástico e sobre a Grande Porção de Lixo do Pacífico, uma enorme ilha de pedaços muito pequenos de lixo duas vezes o tamanho da França.

Eles ficaram angustiados, mas tiveram uma grande ideia: o SeaVax, um navio movido a energia solar que limpa até 22 milhões de quilos de plástico por ano. Apenas alguns desses navios podem limpar todo esse lixo em dez anos!

É um excelente exemplo de como pessoas podem fazer a diferença. Mas este é só o começo e eles precisam da nossa ajuda. O primeiro modelo do SeaVax já foi construído e eles precisam de mais recursos para conseguir limpar todos os oceanos do mundo. Pelo preço de uma refeição, podemos mudar essa realidade e transformar angústia em inspiração. Contribua e ajude a fazer o sonho do SeaVax se concretizar, e para apoiar outros projetos que ajudem a livrar nossos oceanos do plástico:


Em dezembro passado, visitei uma ilha remota na costa do Vietnã e Camboja. Foi incrível. Mas aí bateu um vento e, nos dois dias seguintes, o oceano foi coberto por lixo, desde embrulhos de doces a isopor. Foi de revirar o estômago. 

O desconforto que essa poluição causa aos humanos não se compara com o impacto que ela tem nos ecossistemas marítimos. Golfinhos, baleias, peixes… todos os seres são afetados. Particularmente quando o plástico se desintegra em pequenos pedaços que entopem as brânquias, bocas e guelras dos animais. 

A ideia em torno do SeaVax é surpreendente: um navio auto-tripulado movido à energia solar que suga todo o plástico do mar, mas tem sensores especiais para proteger a vida animal. Para mudar o mundo, precisamos de mais ideias geniais como esta e outras. Se dermos o apoio necessário, poderemos ajudá-los a dar o ponta-pé inicial e mostrar resultados imediatos. E, em seguida, nossa comunidade pode pressionar os governos a ampliarem o alcance de ideias como esta.

O movimento da Avaaz tem um papel essencial nesse caso. Não há outra comunidade como a nossa para financiar esse projeto coletivamente. Cabe a nós ajudar o sonho destes inventores se tornar realidade, apoiar outros projetos a terem a mesma exposição e dar esperança ao mundo inteiro. Pelo preço médio de uma refeição, é possível limpar até 170 mil fragmentos de plástico! Contribua agora:




Obviamente, além de limpar os oceanos, temos que parar de jogar tanto lixo neles. Começando com o que arrecadarmos agora, nossa comunidade pode:
  • Trabalhar com projetos para reduzir o fluxo de plásticos para o oceano nos países mais poluentes;
  • Identificar outras ideias ambiciosas para limpar o lixo usando novas tecnologias;
  • Organizar limpeza comunitária das praias para impedir que mais plástico chegue nos oceanos;
  • Pressionar os governos para limitar ou banir o uso de plástico, como fez a cidade de São Francisco recentemente com a proibição de garrafas plásticas de água.
A Avaaz tem se mobilizado em prol do oceano e venceu algumas das maiores campanhas em torno do tema da história. Nas ilhas Chagos do oceano Índico, e no Pacífico americano, conseguimos criar algumas das maiores reservas oceânicas. Também lutamos para proibir as sacolas plásticas em várias cidades. Vamos usar o caso da SeaVax de exemplo para começar uma onda global que irá resultar na limpeza dos nossos oceanos. Vamos usar nossa angústia em relação à Grande Porção de Lixo do Pacífico, para criar uma nova compreensão e amor por nossos oceanos. 

Um abraço cheio de esperança e gratidão por esta incrível comunidade,
Ricken e toda a equipe da Avaaz 

Fontes: 

Aspirador movido a energia solar poderia sugar até 24.000 toneladas de plástico do mar a cada ano (em inglês) (Eco Watch) 
http://ecowatch.com/2016/02/19/seavax-vacuum-ocean-plastic/ 

Oceanos terão mais plástico do que peixes em 2050, diz estudo (G1)
http://g1.globo.com/natureza/noticia/2016/01/oceanos-terao-mais-plasticos-do-que-peixes-em-2050-diz-estudo.html 

SeaVax - Navio-aspirador Robótico
http://www.bluebird-electric.net/oceanography/Ocean_Plastic_International_Rescue/SeaVax_Ocean_Clean_Up_Robot_Drone_Ship_Sea_Vacuum.htm

Plástico forma ilhas de poluição nos oceanos (O Globo)
http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/plastico-forma-ilhas-de-poluicao-nos-oceanos-2962119 

Oceanos 'recebem 8 milhões de toneladas de plástico por ano' (BBC)
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/02/150213_plastico_mares_lk 

sexta-feira, 11 de março de 2016

COMO É A VIDA EM ALEPO, UMA CIDADE SÍRIA SITIADA E DESTRUÍDA PELA GUERRA

Como é a vida em Alepo, uma cidade síria sitiada e destruída pela guerra

março 9, 2016

Ilustração pela autora.
"O garoto não sabe o que aconteceu. Ele só sabe que estava indo para a escola e depois acordou sem uma perna. É muita merda para uma criança de sete anos", me disse o Dr. Hamza Kataeb, 29 anos, numa mensagem de voz pelo Facebook.
Chefe de um hospital de campo de 32 leitos no leste de Alepo, na Síria, Dr. Kataeb cobria o turno de outro médico. Ele já estava no centro médico há 72 duas horas. Na mensagem, sua voz educada às vezes se quebrava por exaustão enquanto ele descrevia o caso de uma vítima recente dos bombardeios aéreos russos. Ainda tinha 20 horas pela frente.
O médico é parte de um grupo raro. Noventa e cinco por cento dos médicos de Alepo fugiram ou foram presos desde o começo da guerra, segundo a organização Physicians for Human Rights. O próprio Kataeb sofreu perseguição: depois de participar de uma manifestação contra o governo, ele acabou numa lista de procurados e teve que abandonar sua residência médica.
Segundo um relatório recente da ONU, ataques aéreos destruíram a maioria dos 33 hospitais de Alepo, deixando unidades de campo como a de Kataeb como os últimos fornecedores de cuidado médico nas partes da cidade controladas pelos rebeldes. Responsável pelo tratamento de condições crônicas e traumas, ele diz que, assim que os ataques aéreos começaram, os ferimentos têm sido mais sérios.
Em janeiro, os ataques aéreos russos fizeram mais de 30 mil sírios fugirem para a fronteira mais próxima, a Turquia. Ali, os refugiados contam com pouca comida, abrigo ou saneamento, condições que os grupos de assistência lutam para melhorar. Do outro lado da fronteira, a mídia internacional documenta o sofrimento deles. Mas em Alepo e áreas próximas as condições são ainda piores.
Desde que o regime e as milícias aliadas cortaram a rota de suprimentos da Turquia para Alepo, os preços dos bens essenciais decolaram. "Todas as rotas de combustível e suprimentos estão cortadas, a não ser por estradas perigosas de difícil acesso", disse Amr Yagar, um ativista e advogado de Alepo, que agora mora em Dubai, trabalhando com organizações de assistência locais. "Isso fez os preços subirem extraordinariamente entre a escassez de produtos de primeira necessidade."
Quando a intervenção russa começou, as organizações com quem Yagan trabalha estocaram combustível, lenha e alimentos básicos. Mas com as estradas fechadas, segundo o ativista, é difícil levar desde fraldas até aquecimento para a defesa civil da cidade. O combustível é escasso e, segundo um taxista que entrevistei via um tradutor pelo Facebook, o diesel que abastece a maioria dos carros e geradores triplicou de preço.
O bloqueio vem sendo combinado a bombardeios frequentes contra a infraestrutura civil – bombas que não visam apenas Alepo, mas a maioria das regiões comandadas pelos rebeldes na Síria. No começo do mês, depois que alguns bombardeios atingiram hospitais no norte da Síria, incluindo um apoiado pelos Médicos sem Fronteiras, a organização disse que os ataques "só podem ser considerados deliberados, provavelmente realizados por coalizões lideradas pelo governo sírio". Temendo mais ataques, o MSF agora se recusa a compartilhar as coordenadas de GPS de suas instalações com o governo sírio.
E as bombas que caem em hospitais também caem em escolas. No dia 11 de janeiro, a Al Jazira informou que 15 pessoas, 12 delas crianças, morreram depois que um míssil russo atingiu uma escola em Ain Jara, a menos de 16 quilômetros ao norte de Alepo. Em 14 de fevereiro, jatos russos teriam bombardeado uma escola em Orem al Kubra, uma cidade na zona rural de Alepo, deixando cinco crianças feridas. Pelo Facebook, Ismaeel Barakat, um ativista de Alepo que testemunhou o resultado do ataque, me disse: "O sangue das crianças estava misturado com canetas, lápis, livros e papéis".
"Há um estado de pânico e pressão psicológica", disse Yagan. "As escolas estão funcionando com grande dificuldade por causa dos bombardeios, e os estudantes têm medo de ir para a escola, o que afeta muito a educação deles."
Todo dia, mais bombas caem na parte leste de Alepo, a cidade continuamente habitada mais antiga do mundo. Os bairros, aos poucos, viram cemitérios de escombros e poeira. Recentemente, um membro da defesa civil de Alepo (também conhecida como "Capacetes Brancos") me disse que os ataques acontecem pelo menos seis vezes ao dia e se concentram em áreas civis e residenciais. Depois que as bombas explodem, segundo ele, os aviões esperam o socorro chegar e bombardeiam novamente. Essa é a notória estratégia do "golpe duplo", que teria matado o fotojornalista canadenseAli Moustafa e que foi usada em dezembro contra um hospital do MSF em Homs.
Ao descrever os desafios de seu trabalho, o funcionário da defesa civil lembrou uma manhã quando ele e seus colegas viram os helicópteros do governo sobrevoarem Alepo como insetos. Um lançou uma bomba de barril em carros de civis. Os Capacetes Brancos correram para ajudar. "Vi uma cena terrível quando fiz a busca dentro de um dos carros: uma mãe apertando seu bebê contra o peito, tentando protegê-lo da explosão. Os dois corpos estavam carbonizados", ele disse.
Quando perguntei sobre as mortes provocadas pelos ataques aéreos, os governos sírio e russo responderam como os governos sempre fazem. Elesnegaram matar civis. Segundo eles, suas bombas só matam terroristas – e desde o 11 de Setembro, os terroristas muçulmanos se tornaram o grande demônio na imaginação internacional. A existência deles justifica qualquer tortura, agressão militar ou crime de guerra.
Quando os ataques russos deslocaram dezenas de milhares de sírios no meio de fevereiro, o Ministério da Defesa russo tuitou: "Perto de #Alepo, terroristas estão evacuando suas famílias para o norte da província, para a fronteira turca devido à situação complicada". Mulheres e crianças em fuga se tornam terroristas quando vistos através da casa de espelhos das Relações Públicas dos militares.
Atacar civis é hediondo mas, ao ligar civis a terroristas, ações assim se tornam aceitáveis. E não é apenas o governo russo que faz esse tipo de cálculo. Em dezembro, o candidato republicano à presidência dos EUA Ted Cruz disse o seguinte sobre o Estado Islâmico: "Vamos bombardeá-los até o esquecimento. Não sei se areia brilha no escuro, mas vamos descobrir." Para não ficar atrás, o candidato Donald Trump lançou a ideia de que atingiria os terroristas "por meio de suas famílias".
Os EUA também estão familiarizados com ataques à infraestrutura na Síria: em fevereiro, o Syrian Observatory for Human Rights informou que ataques aéreos americanos mataram 15 pessoas ao atingir uma padaria numa cidade ocupada pelo Estado Islâmico perto da fronteira iraquiana. E os EUA também não poupam hospitais. Em outubro, um navio de guerra americano bombardeou umhospital do MSF em Kunduz, no Afeganistão, matando 30 funcionários e pacientes.
À meia-noite do sábado, um cessar-fogo limitado entrou em vigor na Síria depois de negociações entre EUA e Rússia. Mas o acordo não cobre ataques aéreos a grupos considerados "terroristas", incluindo o Estado Islâmico e o afiliado da Al-Qaeda Jabhat Al-Nusra.
Por causa disso, muitos simpatizantes da oposição tratam o "cessar-fogo" com um ceticismo amargo. Quando perguntei o que ele achava disso, o ativista Ismaeel Barakat chamou a trégua de "um jogo sujo entre EUA e Rússia para eliminar a revolução sob pretexto de combater o terrorismo".
No sábado, os Capacetes Brancos informaram via Twitter que a situação estava "muito calma" comparada aos últimos anos, mas várias violações já aconteceram por todo o país, com a Rússia trocando acusações com Turquia e grupos rebeldes sobre as responsabilidades por novos ataques.
Apesar dos bombardeios e do cerco, estima-se que cerca de 320 mil pessoascontinuam em Alepo. Alguns estão muito doentes ou são velhos ou pobres demais para se juntar ao fluxo de refugiados. Outros têm negócios ou lares aqui e não querem abandonar tudo por uma vida precária na Turquia.
Outros dizem estar comprometidos. Não importa o que acontecer, o Dr. Hamza Kataeb e seus colegas não pretendem deixar a cidade. "Somos os únicos profissionais de saúde aqui; também somos ativistas", ele me disse. "Ficaremos até o fim. Até o regime acabar. Até o fim da revolução, para que todos que matarem inocentes vejam o resultado de sua obra. Isso tem que ser julgado num tribunal."
Tradução: Marina Schnoor.